sexta-feira, 9 de maio de 2014

MINHAS LEMBRANÇAS 1


PRESENÇA
___Raykorthizo Perez.

E apesar de tudo
Ainda sou teu e o mesmo:
Livre, poeta e teu confidente,
Filho eterno de tanta rebeldia
que me sagrou
sangrou.
Jaboticabal:
Minha. Eternamente.
Sim!
Ainda sou teu e o mesmo
de tudo o que vibra,
de tudo que é puro,
incerto e impuro.

Os canaviais com folhas verdes
(oceano verde)
arrojados e esguios sobre o azul...
É assim
a Jaboticabal do desdém
nascendo  dos abraços dos canaviais...

A Jaboticabal do sol bom
mordendo o chão das plantações
das chuvas acariciando a vida.

Sim!
Ainda sou teu e o mesmo!
Aquele que transborda de dor
pelos necessitados de toda sorte,
Suados e confusos,
Cheios de fome,
Pelos meninos
De barriga inchada e olhos famintos...
Sem dores e sem alegrias,
De peito nus
Pés no chão,
Desdentados,
Rotos,
Corpos trêmulos.
A raça dos deserdados
Escreve corretamente
As forças destes dias...

É por si, por tudo e todos
Uma longa história inconsequente...

Minha terra...
Minha. Eternamente!

Terra da música, das rosas,
De colos que balançam
Embalando mansamente o ninar...

Terra minha!
Ainda sou teu e o mesmo!

Ainda sou o que num canto novo,
Puro e livre,
Sem pedir licença,
Me levanto,
Canto
E aceno para o teu povo

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A MULHER DE JABOTICABAL
___Raykorthizo Perez.

No translúcido olhar da mulher
Não se vê o coração, o amor...
Mas, a beleza, o brilho, o charme.
Variam-se as predominâncias:
- Fascinação
- Encanto
-Paixão
- Interrogação inimagináveis.
Em todos, o brilho fundamental da beleza.

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AUTORIDADE
___Raykorthizo Perez.

Em Jaboticabal,
O Doutor Juiz de Direito
Decidido
Mandou prender o bêbado
Mandou prender o desordeiro
Mandou prender as prostitutas
E uma vez proibiu os estilingues
para proteger as vidraças.

Mas, no fundo da noite
os LOBISOMENS
Uivaram e vagaram impunemente
Até o fim.
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VISÃO DE JABOTICABAL
___Raykorthizo Perez.

Aqui pararam todos os relógios
Num protesto de dor.
Dor dos oprimidos
Da gente sofrida
Das crianças descalças e de peito nu
Dos redimidos na fome
Dos trabalhadores rotos e sujos
Dos mendigos
E pelo desespero sufocado
Dos homens cultos
Que estas esquinas conheceram.

O Tempo aqui parou.

Por estas ruas podem-se ver às noites
Antigos vultos errantes
Tresloucados
À cata de seus sonhos sob as pedras
Que viram-nos nascer e os recolheram

Aqui calaram todos os relógios
num pacto magoado de silêncio e de protesto.
E os políticos quem são?
Tem?
Tem prefeito?
E vereadores, tem?

Agora, apenas, ouve-se os poetas
E loucos plantadores de arrebol
O resto confundiu-se na distância sob o pó.

Aqui pararam todos os relógios!
Aqui calaram todos os relógios!

Agora, sobre bússolas perdidas,
apenas mãos heroicas mostram
Lanças que apontam vagos norte na memória

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TERRA DE CABOCLO
___Raykorthizo Perez.

Na minha terra
Os caminhos são tortuosos e tristes
Como o destino do meu povo errante.

Companheiro, se te ardes em sede,
Se acaso a noite te alcançou
Bate sem susto no primeiro pouso:
- Terás água fresca para saciar a tua sede.
- Cama com lençol estendido
Para o teu sono.

Na minha terra
O caboclo é leal e valente:
Jura que vai matar e mata!
Jura que morre por alguém - e morre!

Minha terra
Que tem pequenos córregos com um só destino
Do teu rio Mogi Guaçu,
Ou na vida, que tem mil destinos
Do teu caboclo aventureiro e nômade!

Ah eu sou da terra dos canaviais
- O intruso
Que foi surpreender a puberdade desses brasis.

Ah meu pedaço de chão,
Minha vida - meu coração,
Tudo isso cabe na palma de minha mão.

- Eu sou da terra onde o homem semi nu
Planta de sol a sol
A cana para abastecer o Brasil.

Eu nasci e cresci entre caboclos
Belicosos e ágeis,
Filhos da gleba, fruto em sazão ao sol dos trópicos.

- Eu sou o índice do meu povo:
Se o homem é bom - eu o respeito.
Se gosta de mim - morro por ele.

Se, porque é forte ou porque tem dinheiro,
Ou julgasse-se poderoso,
Entendesse de humilhar-me,
Ai minha terra e meu povo
Eu viveria o teu drama selvagem
Com meu facão em punho
Eu vingaria a raça
E te acordaria ao tropel do meu cavalo errante,
Como antes,
Te acordava ao choro da viola...
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